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À conversa com Ana Patrícia, mãe de João Almeida

Ana Patrícia Gonçalves é uma mãe como todas as outras, com a particularidade do seu filho ser um dos melhores ciclistas do mundo: João Almeida. Agradecemos a sua disponibilidade para nos conceder esta entrevista, a mais longa até agora, no meio do seu acompanhamento na estrada da Vuelta a España.

Como foi então que o João Almeida descobriu a sua vocação? “O João sempre gostou de andar de bicicleta, como um miúdo normal. Ele gostava de BTT e então inscrevi-o numa escola. Depois, o senhor da escola começou a levá-lo às competições. A entrada no ciclismo não teve influência familiar, foi mesmo do gosto dele”. À medida que o jovem ciclista foi crescendo, as exigências financeiras do desporto impuseram-se sobre os pais. No entanto, Ana Patrícia nunca as viu como sacrifícios para a família: “Nunca foi realmente um sacrifício. Como o João tem gosto em correr, nós temos gosto em acompanhá-lo”.

Quando atingiu a maioridade, João Almeida recebeu a oportunidade de ingressar na Unieuro Trevigiani – Hemus 1896, uma decisão de vida que naturalmente impactou a família. “Como mãe, fiquei um pouco apreensiva”, confessa Ana Patrícia. “Ele ia estar fora de Portugal, por sua conta. Mas como era o sonho dele e tínhamos de apoiar”. Ao longo do percurso de formação, que continuou na Hagens Berman Axeon, não houve um momento de tomada de consciência do enorme potencial do ciclista português, mas antes uma crença inabalável no seu empenho: “Sempre soube que ele ia dar tudo para alcançar os seus sonhos e quando entrou na Deceuninck – Quick Step, soube também que ia dar tudo para estar entre os melhores. Dando sempre o seu melhor, para mim, ele é o melhor!

O primeiro ano no World Tour foi de evolução meteórica para João Almeida, que culminou em 15 dias na liderança do Giro d’Italia. Ao longo da prova, também a família foi sendo reconhecida, pelo forte apoio que proporcionaram na estrada ao camisola rosa. Como surgiu a ideia de ir a Itália? “Era a sua primeira grande volta e por isso, tínhamos de lá estar. Inicialmente íamos apenas num fim-de-semana, mas logo no primeiro dia, percebemos a grandeza do Giro e decidimos ficar o resto do tempo”. Em 2020, o mundo vivia a situação pandémica, em toda a sua gravidade, e o contacto de Ana Patrícia com o filho foi limitado: “Nos dias que lá estivemos, nunca conseguimos estar perto dele, apenas ao longe e a acenar. Mas para nós era suficiente e para ele também. O importante foi estarmos ali a viver aqueles momentos”.

Dois anos depois, a Covid-19 voltaria a interferir com os planos de João Almeida, atirando-o para fora do Giro a 3 dias do final, quando ocupava o 4º posto da geral. Os meses subsequentes foram difíceis e o papel da família foi crucial: “O nosso apoio foi dizer-lhe que a vida é assim, nem sempre as coisas correm como nós queremos, e o importante é olhar para o futuro, que trará muitas oportunidades”. Para a presente Vuelta, não houve tempo para uma preparação ótima, pelo que o 7º lugar que Almeida atualmente ocupa na geral deve-se ao seu enorme empenho: “O João é assim. Sempre que conseguir dar o seu melhor, ele dá-lo-á. Quando não consegue é porque é humano”.

Por vezes, a vontade de ver João Almeida alcançar grandes resultados com as cores de Portugal sobrepõe-se à racionalidade dos factos, mas Ana Patrícia não atribui grande importância aos comentários negativos: “Eu recebo mensagens muito bonitas, de pessoas que apoiam e gostam mesmo do João, e são nessas que eu gosto de me focar”. No mesmo espírito de positividade, desafiámo-la a nomear o melhor momento do seu acompanhamento de ciclismo, o que se revelou uma tarefa difícil: “Todos os momentos que passamos nas provas, em família, são momentos bons. Se tivesse de dizer apenas um, talvez os campeonatos nacionais, porque conseguimos juntar o maior número de família. Independentemente de o João ganhar ou não, passamos sempre momentos bons a acompanhá-lo”.

Para concluir esta entrevista, Ana Patrícia Gonçalves deixa uma palavra de agradecimento a todos aqueles que acompanham e puxam pelo João Almeida, e que desse modo, contribuem para a felicidade tanto dele como daqueles que lhe são mais próximos. Para todos os amantes de ciclismo em Portugal, é um orgulho vê-lo a representar o nosso país por esse mundo fora.

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