O ciclista português fala também do seu início de temporada e de como viveu o resultado histórico de António Morgado na Volta à Flandres.
João Almeida está de volta à competição! Depois do 11º lugar no Paris-Nice e do 9º lugar na Volta a Catalunya, o ciclista português tem como alvo as Clássicas das Ardenas, correndo a famosa ‘tripla’ composta por Amstel Gold Race, La Flèche Wallone e Liège-Bastogne-Liège pela primeira vez. A sentir-se cada vez mais em forma depois de um início de temporada difícil, Almeida aborda este novo desafio na sua carreira com o otimisto pragmático de quem sabe que pode ter a força, mas ainda não tem a experiência.
Acabado de regressar ao hotel depois de reconhecer o percurso da Amstel Gold Race, a primeira ponta do tridente, João Almeida conversou com a Portuguese Cycling Magazine sobre essa experiência e todas aquelas que vai viver ao longo da próxima semana, sendo este o seu último bloco de corridas antes de iniciar a preparação para o Tour de France.
O início de temporada de João Almeida foi difícil. Quando estava previsto iniciá-la na Figueira Champions Classic e na Volta ao Algarve, provas internacionais em Portugal, sofreu contratempos na sua saúde e condição física que afetaram o regresso à competição. “Em termos de resultados não tem sido a minha melhor temporada, pelo motivo de falhar as primeiras corridas por doença, o que me deixou sem ritmo de competição, e depois começar no Paris-Nice que é uma corrida bastante exigente.”
Apesar das dificuldades iniciais, a determinação do português impôs-se na Volta a Catalunya, onde “com bastante mais ritmo competitivo, já me senti normal. O resultado não foi muito mau, tendo em conta que tinha como objetivo ajudar o Tadej [Pogačar].” O domínio de Pogačar por terras espanholas trouxe uma versão de João Almeida que já não se via há algum tempo, posicionando-se na frente do pelotão, alongando o grupo nas descidas e, com menos surpresa, fazendo todos sofrer nas subidas.
A versatilidade é essencial nas clássicas, e talvez seja por isso que a ‘tripla das Ardenas’ surja, pela primeira vez na carreira de João Almeida, no seu calendário, que culminará com a presença no Tour de France. “Não faço muito este tipo de corridas, mas quero começar a fazer mais, e gostava de um dia ganhar uma”, confessa o ciclista de 25 anos, reconhecendo também que elas “podem ajudar-me no futuro, porque são muito duras e longas.”
Falando então das clássicas, a forma de João Almeida é positiva e a recuperação pós-Catalunha ocorreu sem percalços, o que leva o ciclista português a afirmar que “venho aqui com otimismo.” Os olhos do mundo do ciclismo estão já postos na Liège-Bastogne-Liège, a denominada ‘Decana das Clássicas’ pela sua idade e prestígio. Depois de uma temporada de pavé dominada por Mathieu Van Der Poel, o regresso de Tadej Pogačar à competição promete trazer um duelo mais equilibrado, ainda queo favoritismo penda para o lado do esloveno.
Olhando aos últimos acontecimentos no mundo do ciclismo, João Almeida acredita que “a corrida vai ser controlada pela Alpecin-Decuninck, eles é que têm essa responsabilidade depois da temporada que ele [Van Der Poel] tem vindo a fazer”, admitindo que “não há grandes segredos” para travar ciclistas tão fortes, “é prever o ataque e tentar seguir na roda.” Quanto ao ataque do companheiro Pogačar de amanhã a oito dias, pode beneficiar de um lançador, um papel que Almeida quer muito ter capacidade para desempanhar, ao considerar que “seria uma honra fazê-lo! Mas primeiro ainda tenho duas corridas bem duras.”
Vamos então falar das duas corridas duras que antecedem a Liège-Bastogne-Liège. A primeira é a Amstel Gold Race, que se disputa no sul dos Países Baixos, numa das poucas regiões ‘montanhosas’ do país. “São as típicas estradas da Holanda e da Bélgica: cima e baixo, esquerda e direita, com subidas curtas e íngrimes”, conta João Almeida com base no reconhecimento parcial do percurso que realizou ontem. “É a típica corrida em que é preciso estar sempre na frente. No geral, até gostei bastante do percurso.”
A segunda corrida que antecede a Liège-Bastogne-Liège é a Flèche Wallone, que se concentra em torno do Mur de Huy. João Almeida terá a oportunidade de reconhecer esta curta e íngrime subida a meio da semana, mas por agora acredita “a chave é entrar bem posicionado para o sprint final. Num ritmo muito forte, quem não está bem posicionado tem de gastar mais do que os adversários. Acho que a boa colocação é meia vitória.”
Em ambas as corridas, a UAE Team Emirates correrá de forma a aproveitar um coletivo forte, que além do próprio João Almeida, inclui também Juan Ayuso, Marc Hirschi, Brandon McNulty e o jovem talento Jan Christen, que recentemente se estreou a vencer como profissional. “Ainda não discutimos a estratégia”, confessa o ciclista português, “mas no geral é o mesmo que todas as equipas: a corrida vai ser bastante dura e todas vão jogar e tentar dar o seu melhor, e nós temos que estar em cima do acontecimento, a seguir as movimentações, e depois quem tiver as pernas é que segue na frente.”
Para a Liège-Bastogne-Liège, João Almeida olha com a nostalgia daquilo que já viveu em sub-23 nesta corrida. Apesar de reconhecer as diferenças entre as duas versões, particularmente ao nível do percurso, a memória faz grande parte do otimismo com que se vai apresentar amanhã à partida: “Foi o primeiro dia importante da minha pequena carreira, nunca me vou esquecer! Fui para a fuga inicial, ataquei a solo no final e consegui tirar a vitória. Foi um excelente dia.”
Hoje termina a semana de transição entre clássicas, e amanhã os ciclistas passam definitivamente do pavé para o asfalto. Continuando a olhar para o passado, mas este mais recente, o otimismo de João Almeida é também reforçado pelo feito de António Morgado, que obteve um 5º lugar histórico para Portugal na Volta à Flandres. “Fiquei muito feliz por ele, acho que é muito merecido e ainda há muito mais para vir, muitas coisas que ainda pode melhorar. Tenho a certeza que ele nos vai dar muitas alegrias.”
Para concluir esta antevisão, “uma boa campanha de clássicas seria estar na frente a discutir a vitória, no primeiro grupo”, afirma João Almeida. “Tendo em conta que é um tipo de corrida que não estou muito habituado a fazer, e uma dinâmica diferente das corridas por etapas, espero voltar muito forte e estar na frente da corrida. Ter um bom resultado seria importante para mim.”
Agradecemos a João Almeida e à UAE Team Emirates a disponibilidade para nos conceder esta entrevista e desejamos-lhes boa sorte nos próximos desafios!
Foto de capa: Sprint Cycling Agency